Compreender um artigo de luxo como uma invenção comercial do recente universo capitalista pode ser um equívoco. Os ovos de ouro de Pierre-Karl Fabergé (1846-1920), um ourives e joalheiro russo, comprovam como a arte de imprimir e construir memórias através de objetos singulares faz parte da história da humanidade.
Em meio à Rússia dos Czares, onde a igreja cristã ortodoxa tem considerável influência, a celebração da páscoa e seus rituais é uma ocasião especialmente celebrada, o que inclui o habito de presentear com ovos; sejam estes de madeira, naturais ou pedra, sempre pintados em cores vibrantes. Uma tradição relativamente comum que, através das mãos do artesão de pedras preciosas, alcançaria o status de luxo.
Gilles Lipovetsky, um filósofo Frances que tem diversos estudos sobre a metodologia do luxo, afirma em seu livro O luxo eterno: “o luxo é o sonho, o que embeleza o cenário da vida, a perfeição tornada coisa pelo gênio humano”. E foi isso que Fabergé fez.
Para atender ao pedido do Czar Alexandre III, que desejava presentear sua imperatriz Marie Fedorovna na ocasião da páscoa, o joalheiro cria em 1885 o primeiro ovo Fabergé, de uma série de 69 ovos dos quais somente 61 sobreviveram até o presente. Curiosas obras de arte em sintonia com a premissa de Oscar Wilde “Só os tolos não julgam pela aparência”; já que o trabalho de joalheria se concentra na embalagem e não necessariamente no conteúdo.
Hoje a casa Fabergé ainda existe, com lojas na França, Alemanha e Itália, e produzem jóias exclusivas sob encomenda. As peças sobreviventes estão expostas em diversos museus ao redor do mundo, sendo a maioria deles na Rússia
Os ovos Fabergé são uma referencia de arte por sua técnica de rebuscamento excessivo, que obedeceram aos mais diversos estilos passando do barroco ao art decó. Um ícone sempre adotado na construção de imagens de moda e propaganda, quando a direção referencial é a estética Kitsch, equilíbrio perfeito entre uma ostentação quase vulgar e ao mesmo emocionante.
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